quinta-feira, 18 de setembro de 2008

SentiMentos vaZios


Como pode um sentimento ser vazio?




Tem de estar cheio de alguma coisa, não é?





Talvez tRisteZa, aleGria, dOr, arrepEndimenTo, mÁgoa...sei lá quantos sentimentos habitam dentro, bem escondidos de outros...nemquero saber.

Não sabes aceitar um não.
É o reverso de saber que dizes sempre sim a tudo, a mim principalmente. Gostava que aprendesses a dizer não, para pelo menos uma vez não me contrariasses.

Este é um sentimento que escondo dentro de outro.
Quero-te mas não tanto como o querer exige de quem ama outra pessoa.

Sinto-te em mim, mas não na minha pele quando me tocas.
desligo, deixo de ser eu, deixo que sejas só tu, como se eu deixasse de ter o meu espaço dentro de mim própria e te pertencesse, como eu não quero pertencer a ninguém.

E então dói, ser de alguém.

Fragiliza-me ser tua.

Exausto só de pensar que um dia, senão já, serei dependente de ti para me sentir eu.
Sei que então o meu não será sempre o teu sim e dentro de mim criarei mais um sentimento escondido.

Estou farta do meu baú de sentimentos escondidos.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

a Arte de PerDer





A arte de perder não é difícil de se dominar;
tantas coisas parecem cheias da intenção
de se perderem que a sua perda não é uma calamidade.

Perder qualquer coisa todos os dias. Aceitar a agitação
de chaves perdidas, a hora mal passada.
A arte de perder não é difícil de se dominar.

Então procura perder mais, perder mais depressa:
lugares e nomes e para onde se tencionava
viajar. Nenhuma destas coisas trará uma calamidade.

Perdi o relógio da minha mãe. E olha! a última, ou
a penúltima, de três casas amadas desapareceu.
A arte de perder não é difícil de se dominar.

Perdi duas cidades encantadoras: E, mais vastos ainda,
reinos que possuía, dois rios, um continente.
Sinto a falta deles, mas não foi uma calamidade.

- Mesmo o perder-te (a voz trocista, um gesto
que aMo) não foi diferente disso. É evidente
que a arte de perder não é muito difícil de se dominar
mesmo que nos pareça (toma nota!) uma calamidade.


in Poemas de Marianne Moore e Elisabeth Bishop, tradução de Maria de Lourdes Guimarães, Campo das Letras , 1999